por Sergio Marchetti
Eu cresci entre as serras da Mantiqueira e do Ibitipoca. Naqueles belos tempos, nós sabíamos quando era a época de chuva, de sol e de frio. A natureza estava equilibrada e nos indicava com precisão cada estação do ano. Eu escalava montanhas e, junto de irmãos e primos, buscávamos gado de um pasto para outro. Depois crescemos e descobrimos que em Minas Gerais não havia montanhas. O Brasil não tem montanhas. Tem serras. As montanhas, teoricamente, seriam mais altas.
Houve de lá para cá um desequilíbrio humano. Sem saber que andava errada, a humanidade se embrenhou por caminhos tortuosos. Fomos tomados por uma neurose coletiva, uma compulsão por prazer, por compra, pelo dinheiro a qualquer custo. A cultura cedeu, mesmo com má vontade, espaço para a futilidade. O “saber” deixou de ser valor. O intangível foi desconsiderado, num mundo visual. Para muitos, vale mais um par de peitos de silicone do que ter a consciência do mundo em que vivemos. Vale o que é visível, ainda que seja falso. O hedonismo de Aristipo encontrou muitos adeptos. Também nunca a falsidade teve tanto valor. Já não importa mais “como” a pessoa fez sua escalada na vida, mas sim “onde” ela está. Oh! Maquiavel, que mau exemplo tu nos deste: “os fins justificam os meios”. O mais curioso de tudo isso é que os alpinistas sociais nunca leram Maquiavel…
Porém, sei que nesse ganho desumano e amoral, num surto coletivo, as montanhas ou as serras foram incluídas no pacote “do dinheiro a qualquer custo”.
Cabe lembrar que alguns brasileiros bem intencionados e ajustados emocionalmente, há mais de quarenta anos, estavam preocupados com o que poderia ocorrer com nossas serras. Mas a visão de futuro e a precaução de muitas pessoas de bem não foram suficientes para evitar a catástrofe. O grande Martinho da Vila já cantava.
E ontem deu no jornal / Que a cachaça aumentou / Tiraram o bosque de lá / Um prédio se levantou / Agora o sonho acabou / O som ficou devagar / A voz do Ciro calou / E a banda não vai tocar…
Na mesma época da música, fuscões e opalas carregavam nos vidros traseiros ou laterais, plásticos adesivos que diziam: “Olhe bem as montanhas”. Depois, uma segunda mensagem foi acrescentada: “Elas vão desaparecer”.
O tempo passou e pudemos constatar que, de fato, as montanhas – sejam lá com os nomes que quiserem dar a elas – estão desaparecendo. Agora, não existem nem serras, nem montanhas. Elas se transformaram em minério.
Não pretendo abrir discussão sobre a falta de atitude do governo, sobre a agressão às serras e ao descaso por outras questões vitais. Quero, por assim dizer, abrir os olhos das pessoas para que possam se conscientizar de que estamos destruindo a nossa própria vida quando deixamos que derrubem nossas montanhas e as nossas matas. As taxas anuais de desmatamento na Amazônia brasileira aumentaram 28% entre agosto de 2012 e julho de 2013.
A cada ano, a Amazônia Legal perde, em média, uma área de quase 5 mil quilômetros quadrados. Os cálculos foram feitos pela ONG Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Olhem bem os rios…
Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui Licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br