As lições por trás dos provérbios
por Sérgio Marchetti *
Tenho reparado que no dia a dia utilizamos frases prontas numa proporção muito maior do que imaginava. Tem provérbios para todas as ocasiões e gostos. Constato que nessa liberdade semântica há muitas lições soltas no ar – verdadeiras sabedorias – que, por pura humildade, vêm fantasiadas de ditos populares, mas trazem, sob trajes simples, autênticas filosofias. Alguns desses ensinamentos podem não ter nenhuma mensagem para os dias de hoje, mas muitos são atemporais, continuam atuais e ainda nos servem como argumento forte ou lição de vida.
Minha avó materna dizia sempre: diga com quem tu andas que te direi quem és. Vejam, caros leitores, a verdade que está contida nessas palavras. As companhias, creio, definem sim quem são as pessoas, seus hábitos, gostos etc. Para ilustrar: pessoas que andam com outras pessoas que falam mal de terceiros, aprovam ou são coniventes com os que possuem esse defeito gravíssimo. Já dizia um provérbio chinês: o medíocre fala de pessoas. O comum fala de fatos. O sábio fala de ideias.
Como mencionei, é enorme o repertório de frases prontas que andam de boca em boca. Dizem que nos casos de quem tem boca vai a Roma e quem não tem cão, caça com gato, entre outras tantas, constam versões diferentes. Na primeira, apostam num outro significado: quem tem boca vaia (do verbo vaiar) Roma. Já a caça não seria com o gato, mas como o gato, ou seja, caçar solitariamente como faz o gato. Observem que as novas opções têm mais sentido, mas não garanto que sejam as originais. Já algumas expressões são tão diretas que indicam a ação esperada, como no caso de Deus ajuda quem cedo madruga e devagar se vai ao longe. Há também nesses ditos uma verdade, uma lição que previne as pessoas para os passos que pretendem dar na vida. Na realidade, sugerem que não devemos ir com muita sede ao pote e que é necessário ter cuidado e saber esperar, pois, quem espera sempre alcança (às vezes cansa), mas realmente em muitos casos a pressa é inimiga da perfeição. Dá até para explicar um provérbio com outro. Viram?
Aos incautos, que não compreendem as fraquezas e os medos alheios, é bom que se lembrem de que gato escaldado tem medo de água fria. Para os rancorosos, águas passadas não movem moinho. Orgulhosos, nunca digam que dessa água não beberão. Valentes, lembrem-se de que não se deve cutucar a onça com vara curta.
Curiosamente, algumas frases têm sentido ambíguo e deturpado. “É dando que se recebe”, frase da maravilhosa oração, atribuída a São Francisco de Assis, que virou dito popular, sofre desse mal. Em termos de bondade, entendemos que o ato de dar ao próximo nos traz recompensa espiritual. Quem dá amor recebe amor. A frase tem também sentido vulgar; na prostituição traduz com fidelidade a ação desenvolvida. Na política, significa troca ilícita e propina.
Por falar em política, a nossa está mais suja do que pau de galinheiro. Não há dúvidas de que debaixo desse angu tem caroço, pois onde há fumaça, há fogo, e, para quem sabe ler, um pingo é letra.
Então, vamos para frente que atrás vem gente.
* Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br.